O efêmero

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No belo ensaio “A Transitoriedade” (1915) Freud observa a inexorável passagem do tempo e o doloroso processo de renunciar ao belo e ao perfeito, ao mesmo tempo em que nos faz notar que assumir este  limite imposto pela finitude  é  o que dá sentido e valor  à existência. Neste momento de incerteza, confrontados com uma catástrofe humanitária, em tempos sombrios, Calibán retoma este delicado fio com a vida para seguir suas filigranas nos artigos que oferece em seu novo número.

Em Argumentos, seção tema da revista, O Efêmero se lê por meio de sete autores que em suas singularidades, por ângulos diversos, oferecem ao leitor a multiplicidade do pensamento psicanalítico que vigora na América Latina.

Esta multiplicidade se mantêm em Vórtice, seção que trata de dilemas vividos no consultório, no âmago da clínica. Esquecer/desaparecer é o tema trabalhado por autores de diversas linhas teóricas, retomando um debate candente com forte ressonância no cotidiano do psicanalista de nossos tempos.

Na seção O Estrangeiro Leonardo Padura, escritor cubano, nos oferece sua sensível prosa sob o sugestivo título Entre um passado perfeito e um futuro que não chegou.

Em Textual, uma entrevista com Caetano Veloso expõe a enorme ligação que este músico, escritor e intelectual brasileiro tem com a psicanálise que, segundo ele mesmo diz, marcou sua vida pessoal e sua criação artística de maneira indelével.

No Dossiê, estudiosos de outras áreas da cultura estabelecem com a psicanálise um diálogo que nos enriquece, e que neste número trata do Retorno da morte e da forma como convivemos com ela diante do cenário criado pela pandemia e pelas políticas sanitárias que a administram, às vezes de maneira mortífera.

Calibán homenageia Janine Puget em De Memória, com o texto de sua última fala pública e textos de colegas que relembram sua vida de contribuições à psicanálise.

Na seção Incidente, o que incide é o efêmero das tentativas de construções classificatórias dos seres humanos: Cromatismos normatizadores traz dois textos que tratam das impossíveis classificações que determinam condições de vida dos sujeitos: gênero, raça são colocados à prova como situações de poder de vida ou de morte.

Em Extramuros, o olhar da clínica atinge espaços mais além dos consultórios em dois textos que nos vêm, um do Chile e outro do México.

E que marcas a psicanálise desenha no corpo das cidades em que habita? É isto que a seção Cidades Invisíveis nos mostra. Desta vez as marcas da psicanálise se fazem ver no corpo tomado pelas curvas femininas que desenham Brasília.

Apoiados na ideia de Freud de que os artistas estão um passo à frente em seu olhar para o mundo, Oscar Muñoz, artista colombiano nos ofereceu sua obra em fotografias que expõem em imagens a temática da revista, desde sua capa, com figuras fugazes, até seu interior em que as imagens se mesclam com os textos e com o olhar do leitor, fazendo de Calibán um objeto de arte que propõe uma leitura entranhada, implicada que traz novos sentidos e estimula o prazer de ir sempre mais além.

Veja o Resumo

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